terça-feira, 24 de março de 2009

Passeio no Plenário

São 3h da tarde e eu já estou me preparando para a entrevista de estágio mais promissora de todas. Abotoo os botões da camisa social e aperto o cinto da calça. Dou uma olhada nos sapatos, e penso, estão bons. Recolho os documentos necessários para apresentar no local da entrevista, e saio de casa as 16h. Um estudante de jornalismo com perspectivas de estagiar na Câmara dos Deputados!

O dia é de sol e logo entro nas largas e isoladas vias da L4. Tranquilo, apenas reflito que a vida é bela e poderia ser mais ainda, dependendo do andar da carroagem do que viria. Final de curso e sem estágios, essa é uma oportunidade e tanto, pensei. Talvez um pouco pelos devaneios, me deparo com uma dúvida de trajeto. Acabo parando nos anexos da presidência. Não era bem onde eu deveria estar, então me informei na guarita que deveria pegar outro caminho. Cá estou eu denovo, sem perder o clima inicial. Uma vez acertado o caminho, entro nos anexos dos ministérios, na N2. Guiado pelo instinto, encontro o CEFOR, o local que me indicaram. Apesar da grande distância entre minha casa e o destino, olho o relógio do celular e percebo que estou adiantado pelo menos 30 minutos. Sento no corredor oposto ao da sala em que deveria ir, e aproveito o tempo para ler um texto sobre cidadania para a aula de quarta. O tempo não passava igual quando se faz uma coisa legal, então decido ir à sala uns 10 minutos antes. Logo descubro que não será ali a entrevista. A senhora que me atendeu recolhe os documentos, exceto o currículo, e então me comunica que devo pegar uma van de circulação nterna e gratuita, para chegar a TV Câmara, em um local que é conhecido por lá como "chapelaria".

Sem maiores dificuldades logo pego uma das vans, que tem uma menina como auxiliar do motorista para abrir a porta da mesma. O motorista por sua vez, todo de terno e gravata, começa então a andar pelas adjacências do Congresso Nacional. Entre uma curva e outra, por um instante me lembrei de Gordon Freeman entrando na Black Mesa no inicio de Half Life. A céu aberto, o motorista vai me colocando em um tour em meio a executivos e magnatas de alto escalão. Realmente um lugar diferente: muitos carros estacionados na pista, estreitando esta consideravelmente, todas as pessoas indiscriminadamente muito bem vestidas, ora falando em celulares, ora esperando alguma coisa acontecer, olhando para o céu ou para os lados. Provavelmente todos bem atarefados, suponho. Enquanto reparo nisso, de repente a van adentra um túnel e desce uma íngrime rampa que dá para um subterrâneo. De soslaio ainda vejo escrito numa porta de vidro "TV Senado", que fica rapidamente para trás. Sem tempo de olhar muita coisa, em poucos segundos vejo novamente o céu azul e os ministérios de um lado e de outro, mas a visão dura poucos instantes. Novas curvas são feitas no subterrâneo, rampas e descidas e muitas pessoas segurando seus ternos nas costas enquanto fumam um cigarro, outras tantas apenas indo de um lugar a outro, andando ali na base do Poder do país. Como quem dirige e conhece o lugar de olho fechado, o motorista logo nos leva para a superfície, num instante em que se vê o Congresso Nacional por fora. Mas Logo voltamos para dentro e chegamos à chapelaria. Muitos carros de deputados e senadores já estacionados por ali. No hall de entrada, passo na recepção, onde colocam uma etiqueta de identificação em mim. Passo pelo detector de metais sem maiores problemas e após um lance de escadas e uma dobrada para a direita, encontro a redação da TV Câmara. O lugar, que eles chamam de aquário, é todo revestido de lâminas de vidro, e a iluminação também é um requinte. Logo me apresento a uma pessoa, que me pede para esperar com outras duas candidatas ao estágio em uma salinha aconchegante. Após 30 minutos ali sentados, e vendo as duas conversarem sobre inutilidades, um black-out deixa todos no breu total. Durante 30 minutos, o centro do poder padeceu na total escuridão, mas não se viu vela em lugar algum. Depois de vários minutos, a luz voltou, mas ainda assim tivemos de esperar quase o mesmo tempo mais para o primeiro ser entrevistado. Foi a primeira menina, foi a segunda, e após umas três horas de espera desde quando cheguei ali, finalmente fui entrevistado. Entro na sala para a entrevista, que na verdade se deu em um dos estúdios, e sou alvejado com uma série de perguntas que vão do tipo de música que gosto ao meu ponto de vista sobre a vitória do PMDB na presidência da Câmara e do Senado. No final da bateria, que foi até descontraída, o entrevistador me leva para um passeio nas chamadas ilhas de edição, e em todas as outras coisas que dizem respeito a televisão, tudo de uma qualidade e organização para ninguém botar defeito. Do lado de fora do aquário, vejo a apresentadora fazendo o jornal ao vivo, mas tão compenetrada no texto do teleprompter que jamais repararia na minha presença ali do lado de fora, de frente pra ela.

Bastante cansado, e claro, com muita fome, pego a van de volta ao lugar onde deixei o carro, e sem pestanejar, passo no drive thru do Mc Donalds, para que meu dia termine mais gostoso.

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