segunda-feira, 9 de maio de 2011

Festival Internacional de Curtíssimos - comentários

Enviamos um curta ao Festival Internacional de Curtíssimos, realizado em Brasília nos dias 7, 8 e 9 de maio. O curta, realizado por mim e outras 3 pessoas (incluindo o personagem que narra o filme) foi feito em 4 dias. O título: O resto do prato. Embora feito às pressas, um bom curta que fala sobre diferenças sociais e desperdício de comida.
O curta não foi selecionado para a mostra do Festival, mas eu fui em um dos dias conferir o evento e não pude deixar de notar a boa qualidade de alguns filmes e a péssima de outros. Diante do disparate, me pergunto até hoje se a equipe que selecionou os curtas não fumava um “cachimbo da paz” de tempos em tempos durante a seleção. Cada desastre de filme que eu não acreditava, enquanto haviam filmes realmente dignos de estarem ali. Vou citá-los.
No dia 07, sábado à noite, eu assisti aos 22 curtas da mostra nacional e a 14 dos 24 filmes da mostra internacional (fui embora antes de acabar).

• Dez bonequinhos pedreiros de 19,99. –(DF)

O primeiro da mostra a ser exibido foi o que eu mais gostei, pelo menos em termo de dificuldade em fazer versus resultado final. Não foi o mais engraçado (e o objetivo não era esse) nem o mais triste ou dramático (e o objetivo também não era esse), mas certamente o de melhor fotografia, narração e trilha-sonora entre os nacionais. Trata-se da história da construção e desenvolvimento de Brasília contada da perspectiva de uma maquete fictícia viva, que começa com um pacote de bonecos construtores que custaram 19,99. A partir daí, a maquete ganha vida e se multiplica. A maquete, na verdade, é a própria Brasília, com imagens muito belas feitas com desfoque numa distância e ritmo que dá a impressão de tudo ser pequeno como numa maquete.
Não é genial, mas achei criativo e um tanto complexo de fazer, diferente de outros filmes que ainda vou comentar.

• Missão Impossível (SP)
Como parar a goteira de uma torneira? uma coisa tão comum e boba ficou engraçada nesse curta de 1 minuto. Um dos melhores da mostra nacional.

• Eu quero fazer um filme (CE)
Interessante curta sobre um senhor bastante idoso, analfabeto e humilde que diz como ele faria um filme com ele mesmo contando. É engraçado, mas a idéia é um tanto clichê.

• Contemporâneos (RJ)

Embora seja uma animação, e como toda a animação um tanto melhor realizada, essa aqui não me agradou. Achei sem graça, sem sal. Apenas uma orquestra de instrumentos vivos que vai “parar” na cabeça do maestro, uma alusão sobre como a mente de um músico desse porte funciona. Achei o arranjo musical muito ruim.

• João cabeção (MT)

Diferente dos anteriores, que tem cara de curta feito para festival, esse aqui parece vídeo feito para youtube, em que os realizadores acharam o resultado “legal” e resolveram mandar para um festival de curtas. Bom, colou. Entrou na mostra e arrancou algumas risadas da platéia, contando a história de um cara que tinha um cabeção (grande mesmo) e era rejeitado pelos amigos. Eu quase não consegui rir. Achei as piadas muito fracas.

• Riot of Love (RS)

Outra animação. Essa aqui foi bem menos elaborada que a anterior, mas até interessante. Conta sobre um amor esnobado que depois inverte de situação. Foi usado o exagero (o coração cresce no peito da menina, ficando maior que ela própria, por exemplo). Mesmo com certa graça, muito longe de poder ganhar um festival.

• Paranoiá (DF)

Começa com um mergulhador e uma voz narrando um desaparecimento, que depois se mostra relacionado com lendas sobre monstros no Lago Paranoá. Até certo ponto parece um documentário, e depois descamba pra um humor irônico. O final culmina numa homenagem aos filmes de ficção na linha de “Anaconda”. Seria ótimo, não fosse a mudança forçada do drama para a comédia.

• Semprefico (MG)

Uma câmera em um único plano, mostrando a chuva batendo no chão, parando de vez em quando, ao som da própria chuva e do assobio de um pássaro. Seria legal, se ao menos tal cena tivesse durado no máximo 1 minuto. E seria mais legal ainda se fizesse algum sentido durante as imagens e não apenas no final, quando aparece o poema no qual se inspirou. Ao contrário, foram longos 3 minutos de tédio num filme em que o realizador só teve que ficar uma meia hora sentado na varanda da casa para filmar a chuva batendo no chão.

• Olha o que eu fiz (DF)

Crianças brincando de fazer um filme na Escola. Interessante, e eu rida empolgação das crianças do filme.

• Tocata (DF)

O curta começa com um diálogo gestual entre 2 surdos (uma moça e um rapaz), do qual não se pode entender quase nada. Na seqüência, a moça surda começa a ser perseguida por algum mal intencionado num bairro deserto, o que continua ser dar qualquer sentido à cena do diálogo. O final, no estilo terror trash dos anos 80, dá ainda menos sentido a todo o resto.

• Cruz de Pedra (PR)

Imagens de uma igreja católica, do portão da igreja, novamente da igreja, novamente do portão, e a informação de que tais imagens foram inspiradas em um poema de mesmo nome do curta. Nada interessante, nada criativo, nada merecedor de estar ali.

• Regenciar (DF)

Uma perseguição em um bosque, um assassinato. Cortou para um cara deprimido em um banco de parque, conversando com uma moça. Diálogo pouco compreensível, dando a entender que a explicação viria logo mais. Diante da discussão da moça com um terceiro personagem, o cara deprimido usa super poderes para mover as folhas do parque contra o intruso (tipo X-men). Fim do filme. Mais um curta “sem-noção”, mas que não é ruim.

• Animágico – o Grande truque (SP)

Clichezão a la Charles Chaplin, com direito a imagem, música e truques inspirados na época desse grande artista. Não gostei da imitação descarada.

• Domingo – (CE) – ganhador da mostra nacional

Engraçado de verdade, esse aqui foi criativo e em muito lembra os vídeos de criança que tanto fazem sucesso no Youtube. A “atuação” da menina deve ser a responsável por ter dado o prêmio ao curta.

• Ali em Copa-cabana (RJ)

O melhor diálogo, dos poucos diálogos que vi entre todos os curtas. Engraçado e eficiente, o segundo melhor curta da mostra nacional, na minha opinião.

• Diga para minha família que estou preso e vou voltar em um ano (RS)

Nesse filme eu viajei um pouco em outros pensamentos. Só sei que era boring, e me lembro mais da frase no final que dá o título ao curta.

• My frango (RJ)

Mais um curta carioca que teve bons momentos engraçados. Além disso, faz uma bela crítica à alienação das pessoas que vivem mais os jogos virtuais (tipo farmville) do que a vida real.

• Breves instantes (MG)

Esse filme mineiro da UFMG me pareceu o mais difícil de realizar. Uma espécie de arroz colorido desenhou formas nas calçadas de uma rua. Uma câmera filmou ou fotografou (não sei como) esses desenhos em uma velocidade para dar a impressão de movimento. O resultado final ficou artisticamente interessante (apenas artisticamente).

• A descoberta de Luke (RJ)

Essa animação sobre um carinha de 18 anos que resolve ganhar uns músculos na academia e acaba se deparando com cenas estranhas (e pouco verossímeis, ao meu ver) não me agradou, tanto pela arte super fraca quanto pela história de final forçado.

• Narrativa da Fulerage (DF)

O título não negou: esse seria o filme mais “fuleiro”, sem sentido, sem razão de ser exibido num festival de curtas. Em nenhum momento o curta fez sentido. Tanto que é difícil explicar. Só sei que a cena do cara pulando corda pelado no matagal durante uns 20 segundos continua sem fazer sentido.

• Sintonia (SP)

Eu também dei uma viajada nessa hora. Não lembro do filme.

• Crash! (DF)

Sem dúvida, a melhor animação nacional. Engraçado e bem pensado. Um copo de cerveja num bar, que começa a perceber o sentido (e destino) de sua existência.

Não vou esmiuçar a mostra internacional. Não que ela não seja digna, mas acho que vai ficar cansativo. O filme francês “Pixels” foi o grande destaque, pela originalidade e pela qualidade dos efeitos visuais. “Dirkjan Rules!”, dos Países Baixos, foi dos melhores, uma crítica sutil ao Fascismo/Nazismo com certo humor negro. O filme de Singapura, “PlayBack”, embora com uma história super simples sobre 2 garotos brincando com armas de brinquedo que se reencontram muitos anos depois tem seus méritos de trilha-sonora e fotografia. No restante, não achei nenhum bom, a maioria chato e um ou outro bem ruim. Nessa hora, quando o sono me apanhou, fui embora.

Foi bom ir num festival de curtas, mas espero que a equipe que faz a seleção tenha mais bom senso e coloque bons curtas (como o nosso) no lugar de alguns lixos que tive a infelicidade de ver.

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